Investidores europeus financiam abuso global de spyware

Investidores europeus financiam abuso global de ferramentas de espionagem

Uma recente investigação do Der Spiegel e da Rede de Colaborações Investigativas Europeias (EIC) descobriu como empresas e investidores europeus possibilitaram a proliferação de ferramentas perigosas de spyware usadas para monitorar jornalistas, dissidentes e oponentes políticos em todo o mundo.

O recente relatório do Der Spiegel se concentra em Predator, um poderoso programa de spyware desenvolvido por ex-oficiais militares de inteligência israelenses. O Predator pode infiltrar secretamente smartphones e extrair mensagens, fotos, contatos e dados de localização. Ele emprega um método de “clique zero” que permite que os telefones sejam infectados sem ação do usuário, tornando-o extremamente furtivo.

O Predator foi criado por volta de 2018, quando o empreendedor israelense de vigilância Tal Dilian adquiriu uma startup macedônia chamada Cytrox, que desenvolvia o spyware. Dilian obteve financiamento para concluir o Predator de investidores europeus, incluindo cerca de US$ 12 milhões do Davidson Technology Growth Debt, na Alemanha. Esse fundo contava com o apoio de pessoas ricas da Alemanha, incluindo o investidor berlinense Yoram Roth, que possuía uma participação pessoal de 2,5% na empresa de Dilian por trás do Predator.

Abuso global de spyware originalmente para equipar agências de inteligência

Com o financiamento garantido, Dilian formou a Intellexa Alliance, um consórcio de fornecedores de spyware que visava equipar agências de inteligência e regimes autoritários com ferramentas de vigilância. A Intellexa combinou o Predator com produtos de outras empresas, incluindo a empresa francesa Nexa Technologies.

A Nexa foi fundada por Stéphane Salies, que anteriormente havia vendido sistemas de espionagem na internet para o regime de Gaddafi na Líbia e para o governo de al-Sisi no Egito. No entanto, a Nexa ganhou credibilidade por meio de investimento e parceria com a empresa alemã Plath Group.

O envolvimento do Plath Group conferiu legitimidade à Nexa, mesmo quando a Nexa e aliados como a Advanced Middle East Systems (AMES) baseada em Dubai vendiam o Predator e outros spyware para regimes autoritários como Egito, Vietnã e Arábia Saudita. As empresas parecem ter frequentemente contornado as restrições de exportação.

O relatório revela como o Predator foi detectado em países com histórico de abusos aos direitos humanos, como Turquia, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Ruanda. Na Grécia, ele foi usado para direcionar jornalistas e políticos. A furtividade do Predator torna a responsabilização completa difícil.

Os especialistas afirmam que os fabricantes europeus de spyware operam em um ambiente amplamente não regulamentado, fornecendo regimes duvidosos apesar das preocupações com os direitos humanos. Existem controles rigorosos de exportação no papel, mas as empresas encontram formas de contorná-los.

Sophie in’t Veld, membro do Parlamento Europeu que investiga os abusos de spyware, afirma que os governos estão sob pressão de agências de segurança que exigem ferramentas avançadas de vigilância. Ela está defendendo regulamentações nacionais e da União Europeia mais fortes para a indústria de spyware.

Crédito da imagem destacada: Foto de Antoni Shkraba; Pexels; Obrigado!